A sequência do filme mudo de 1925 que influênciou todo o cinema desde então

Você viu a Escadaria de Odessa, mesmo que você nunca tenha visto a Escadaria de Odessa.

A aterrorizante e inovadora sequência, está entre as cenas mais famosas do cineasta pioneiro soviético Sergei Eisenstein, que faria 120 anos em 2018, caso estivesse vivo.

O quarto ato da obra-prima silenciosa O Encouraçado Potemkin de Eisenstein, se passa nas escadarias de Odessa, conhecidas tambêm como Escadaria de Potemkin (Потемкинская лестница), inspirou incontáveis ​​cenas de filmes nas décadas seguintes e é um exemplo impressionante da ingenuidade do diretor.

Nascido em 1898, Eisenstein trabalhou inicialmente no teatro antes de fazer seu primeiro longa-metragem, A Greve, em 1925.  O filme narra uma greve em 1903 feita por trabalhadores em uma fábrica na Rússia pré-revolucionária e as repressões posteriores.

Já O Encouraçado Potemkin, uma dramatização de um motim, que ocorreu em 1905, no navio de mesmo nome da Marinha Imperial Russa, veio pouco depois. Em ambos, Eisenstein demonstrou algumas das primeiras instâncias de montagem, ou quando várias tomadas são editadas juntas para compactar informações ou expor um tema. Eisenstein acreditava que dois takes separados, quando justapostos, criam um novo e mais poderoso significado do que quando esses takes são considerados separadamente – uma teoria que parece meio óbvia hoje, mas que foi radical em 1925.

A seqüência da Escadaria de Odessa, continua sendo um dos exemplos mais citados e reproduzidos de filmagem. No filme, os cidadãos de Odessa (então parte do Império Russo, atualmente uma cidade na Ucrânia) se reúnem nas Escadarias de Potemkin para saudar e mostrar seu apoio aos amotinados a bordo do navio de guerra. Logo, um grupo de soldados se materializa no topo da escada e começa a atirar em homens, mulheres e crianças inocentes, descendo metodicamente as escadas enquanto massacram a multidão em fuga. Muitas das escolhas de Eisentein foram revolucionárias. Ele muda constantemente o ritmo de suas cenas, cortando sequências longas e prolongadas para pulos rápidos, mantendo assim os espectadores desequilibrados.

Ele também varia a direção do movimento da câmera e da multidão. Além do conflito óbvio entre diferentes tomadas, Eisenstein também impregna o conflito dentro de cada quadro individual, como o corpo do garoto esparramado, perpendicular às sombras dos degraus.

Eisenstein prefere não mostrar o plano de estabelecimento de todo o conjunto de escadas, especificamente para que os espectadores não tenham uma âncora espacial para visualizar o que está acontecendo, imitando a desorientação e o caos da ação na tela. A sequência termina em uma das primeiras e mais inteligentes montagens da história cinematográfica: o navio de guerra responde ao massacre disparando contra a cidade, e Eisenstein corta três estátuas de leão em rápida sucessão como se estivesse vivo e levantando em reação ao conflito. (A partir de 11:44 no vídeo abaixo)

Cada montagem que vem depois da Escadaria de Odessa tem certa dívida com Eisenstein. Dezenas de filmes conhecidos tiveram cenas inspiradas, algumas de forma mais explícitas que outros, a partir da sequência de Eisenstein. De A Bela e a Fera passando por Bastardos Inglórios e Os Intocáveis, inclusive com o último retratando um carrinho de bebê caindo das escadas durante o infame tiroteio na Union Station, em Chicago – uma clara homenagem à carruagem do Battleship Potemkin.